Grupos farmacêuticos interessados em comprar a marca de lubrificantes íntimos KY, líder de mercado no Brasil e pertencente à anglo-holandesa Reckitt Benckiser , já começaram a se movimentar em busca de informações sobre o ativo e o mandato para a operação. O Valor apurou que a brasileira Cimed, dona da marca K-Med, vice-líder no segmento, é um dos potenciais compradores.
Ontem, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou a venda da divisão de preservativos masculinos e lubrificantes íntimos da Hypermarcas para a multinacional, mas impôs como condição a venda da marca KY no país.
O voto do conselheiro Paulo Burnier, relator do caso, foi seguido por unanimidade pelos demais conselheiros. A Superintendência-Geral do órgão antitruste havia recomendado a impugnação da operação. Isso porque, de acordo com o relatório de Burnier, “poderia trazer problemas concorrenciais no mercado de preservativos masculinos”. A partir daí, o conselheiro negociou com as empresas uma solução para a viabilidade da transação.
“A Reckitt terá o controle de três das maiores marcas existentes, que têm proximidade concorrencial”, disse, em seu voto. “Com relação ao mercado de lubrificantes íntimos, as preocupações seriam ainda maiores, principalmente considerando aspectos estruturais do mercado, como barreiras à entrada e baixa rivalidade, e o panorama pós-operação”, diz o relatório de Burnier
De acordo com estudos solicitados pela Superintendência-Geral, “todas as hipóteses levantadas apontavam para um provável aumento de preço, tanto nos produtos das requerentes [a Reckitt Benckiser], quanto nos produtos concorrentes”. Burnier ressaltou ainda que a “Reckitt indicou uma série de eficiências econômicas [advindas da operação], mas não há qualquer evidência que essa eficiência seria repassada ao consumidor”.
Caso a operação fosse concretizada conforme a proposta original, a Reckitt ficaria com quatro das maiores marcas do segmento e participação de mercado, em valor, entre 60% e 70%. Único lubrificante íntimo entre os mais relevantes em participação de mercado que não pertence à Hypermarcas ou à Reckitt, o K-Med se posiciona no mercado com preços inferiores e, com a compra da KY, a Cimed complementaria seu portfólio. Procurado, o laboratório não comentou o assunto.
No ano passado, segundo informação prestada pela Cimed ao Cade com base em dados da consultoria IMS Health, a KY teve participação de 38,8% (em peso líquido), enquanto K-Med ficou com 27,1%. O lubrificante Olla vinha na sequência, com 12,8%. Participam ainda desse mercado a MSD, Teuto, DKT do Brasil, Combe, Valeant, Supera (joint venture entre Eurofarma, Cristália e MSD), entre outros.
Procurada, a Reckitt Benckiser informou que a venda de sua marca de lubrificantes íntimos se restringe ao Brasil – o produto está presente em outros cerca de 50 países e foi comprado em 2014 da Johnson & Johnson, por valor não revelado. A multinacional disse ainda que seguirá rigorosamente o compromisso assumido com o Cade e que a compra da divisão de preservativos e lubrificantes da Hypermarcas reforça o compromisso com o mercado brasileiro.
“Com a finalização dessa aquisição, a Reckitt reitera a expectativa de transformar o seu negócio de bem-estar sexual no Brasil e de consolidar sua presença nos canais nacionais de cuidados com a saúde”, informou.
A Hypermarcas, por sua vez, informou que a aprovação do tribunal do Cade permite o fechamento imediato da operação. “Desse modo, assim que cumpridas as demais condições precedentes estabelecidas no contrato, a companhia estará apta a realizar o fechamento e receber o restante do preço de aquisição”, disse em comunicado.
As empresas anunciaram o negócio de R$ 675 milhões no fim de janeiro e a Hypermarcas recebeu à época um sinal de 20%.
fonte: Valor Econômico