No ano passado, às vésperas de completar 120 anos de presença no Brasil, a gigante alemã Bayer tornou-se uma empresa com vendas de mais de R$ 10 bilhões no país. A desvalorização do real, porém, impediu que a subsidiária brasileira ultrapassasse a China em importância dentro do grupo e cumprisse a meta de crescimento estabelecida pela matriz, de 8% em euros, a despeito da expressiva expansão de 26% das receitas em moeda brasileira. Em 2016, a depender do câmbio e do reajuste determinado pelo governo para o preço de medicamentos, disse o presidente do grupo no país, Theo van der Loo, é possível que a Bayer Brasil registre desempenho melhor em euros, o que a colocaria na rota para alcançar a meta de crescimento.
ais uma variável pode interferir nos objetivos da subsidiária brasileira: a eventual venda da divisão global de agronegócios, a Crop Science, que no ano passado representou quase três quartos das vendas da Bayer no país. Já há algum tempo, na esteira do intenso movimento de consolidação da indústria mundial agroquímica e de sementes, a empresa alemã tem sido citada em rumores. A mais recente especulação veio a público nesta semana e dá conta de uma possível oferta da Monsanto pela área agrícola do grupo. Questionada, a Bayer informou que não comenta rumores de mercado. O teto do reajuste para medicamentos autorizado pelo governo, que tem o controle dos preços desses produtos no país, não foi oficializado e ainda depende da assinatura do ministro-chefe da Casa Civil.
Mas um cálculo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) indica que, pela primeira vez em mais de dez anos, o índice máximo poderá ficar acima da inflação e chegar a 12,5%. Pela regra, o reajuste pode ser aplicado a partir de 31 de março. “Estamos em dois segmentos mais favorecidos [nesse momento de crise econômica]. O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal e a população está envelhecendo”, observou o executivo. No ano passado, a divisão de cuidados com a saúde da companhia, dona da marca Aspirina, respondeu por 22% dos resultados no país, e a Crop Science, de agronegócios, foi responsável por 73%. O restante foi gerado pelo negócio de polímeros de alta tecnologia, recém-cindido da Bayer em uma nova empresa, batizada Covestro. Conforme Loo, não fosse por esse último segmento, as receitas da Bayer Brasil teriam crescido ainda mais – cerca de 31% – em 2015. Globalmente, o grupo registrou recorde de vendas, com 46,32 bilhões no ano e expansão de 12,1%. Em 2016, quando a Bayer completa 120 anos no país, os investimentos da operação brasileira devem alcançar R$ 180 milhões, em linha com o valor desembolsado nos últimos anos, e não há previsão de compra de ativos locais.
“Se a Bayer fizer uma aquisição, será global. No Brasil, só se for algo oportunista”, disse. Conforme o executivo, que é o primeiro brasileiro a comandar a empresa no país, a maior parte dos recursos será aplica em infraestrutura e em pesquisas com sementes, com vistas a adaptá-las às diferentes regiões, consolidando as aquisições fechadas pelo grupo, e “concorrer com a Monsanto”. Na área farmacêutica, a expectativa é poder ampliar o número de pesquisas clínicas realizadas no país, na esteira do abrandamento das regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em todas as frentes, a palavra de ordem no grupo é inovação radical e, em saúde humana, estão no foco cardiologia, oncologia, saúde feminina e doenças respiratórias. “O maior desafio é alcançar uma inovação que seja, de fato, de ponta”, disse Loo. No ano passado, a divisão de cuidados com a saúde registrou receitas de R$ 2,16 bilhões no país, com expansão de 16%. A área farmacêutica cresceu 12%, impulsionada por novas indicações para o anticoagulante Xarelto, um dos cinco campeões de vendas da Bayer. Já a área de OTCs (medicamentos isentos de prescrição), que conta com marcas como Bepantol, Redoxon e Coppertone, cresceu 34%, enquanto saúde animal avançou 17%. A fábrica de medicamentos que funciona em São Paulo produziu, no ano passado, dois bilhões de comprimidos, destinados tanto ao mercado brasileiro quanto às exportações – a companhia alemã é responsável por cerca de 10% dos embarques de toda a indústria farmacêutica instalada no país. Para os próximos meses, a expectativa é trazer ao país outros três “blockbusters” do grupo: o Xofigo, para tratamento de câncer de próstata com metástase óssea; o Stivarga, indicado para câncer gastrointestinal; e o Eylia, para edema macular diabético. No agronegócio, o crescimento da operação brasileira no ano passado alcançou 37%, para R$ 7,46 bilhões em receitas. Conforme Loo, o segmento agroquímico ainda recebe o maior volume de investimentos no país. Ao longo de 2015, a Bayer aportou R$ 31 milhões em novos laboratórios de monitoramento de resistência a fungicidas, herbicidas e inseticidas (FHI) e no Centro de Tecnologia de Aplicação, em Paulínia (SP). Além disso, foram aplicados R$ 100 milhões para o lançamento da Rede AgroServices, que reúne agricultores, distribuidores e cooperativas e foi firmada a compra do negócio de sementes da Cooperativa Central Gaúcha (CCGL), do Rio Grande do Sul, por valor não revelado.
onforme o presidente da Bayer no Brasil, até o fim do ano será concluída a reorganização administrativa decorrente da nova estrutura global do grupo. Desde 1º de janeiro, os negócios estão divididos em três: Pharmaceuticals (de saúde humana e a maior em termos globais), Consumer Health (que reúne os OTCs e vitaminas, entre outros) e Crop Science (de saúde animal e agronegócio). A Covestro funciona como empresa independente no Brasil desde julho, embora compartilhe com a Bayer o complexo instalado na Zona Sul de São Paulo. “Não há hoje, no mundo, outro grupo com foco em ciências da vida além da Bayer”, ressaltou Loo, ao ser questionado sobre a fusão entre Dow e DuPont, que cria um gigante global de químicos.
“A Bayer vai focar nas áreas em que já está”, disse. Apesar do forte desempenho em 2015, a Bayer Brasil permanece como quarta maior operação do grupo, atrás da subsidiária chinesa do grupo, que também se beneficiou da compra de uma empresa local especializada em medicamentos dermatológicos isentos de prescrição, a Dihon Pharmaceutical, concluída no fim de 2014. Hoje, disse Loo, além do desafio de superar os chineses, o comando da operação brasileira está atento à aproximação do Japão no ranking interno do grupo.
fonte: Valor Econômico