Uma das maiores fabricantes de medicamentos genéricos do país, a Medley, do grupo francês Sanofi, aposta nos similares como motor do crescimento dos negócios nos próximos anos, uma classe de remédios que tem registrado expansão acelerada no país e cujas margens não são tão comprimidas por descontos quanto as dos genéricos.
A estratégia que privilegia o lançamento de similares, porém, não representa o enfraquecimento da área de especialidade do laboratório constituído há 20 anos e comprado pelos franceses em 2009 por R$ 1,5 bilhão. Naquele momento, o mercado de genéricos no país estava em plena expansão e o retorno com o negócio ainda não era tão pressionado. Hoje, as vendas desse tipo de medicamento, em unidades, puxam as vendas totais de fármacos no país. Mas pela primeira vez, em receita, o ritmo de expansão ficará abaixo do mercado em geral.
m 2016, até setembro, as vendas de genéricos no varejo farmacêutico nacional cresceram 10% considerando-se os descontos concedidos ao longo da cadeia farmacêutica, para R$ 4,7 bilhões, segundo dados da IMS Health organizados pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma). O mercado em geral, por sua vez, movimentou R$ 37,3 bilhões, 12,4% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Em unidades, contudo, as vendas de genéricos tiveram expansão de 12,3%, enquanto as vendas de remédios no varejo brasileiro subiram somente 4,9%. “O plano é manter o crescimento em genéricos junto com o do mercado, sustentando a posição da Medley”, afirma o diretor responsável pela área de negócios do grupo farmacêutico, Carlos Aguiar. A marca brasileira, que responde por metade das vendas em volume da Sanofi no Brasil, é a segunda maior em faturamento e a terceira em volume de vendas de genéricos. No passado, chegou a ocupar a liderança desse mercado no país, hoje nas mãos da EMS.
O diretor da Medley reconhece que o mercado brasileiro de medicamentos tem se mostrado desafiador desde o fim do ano passado. Ainda assim, manteve o duplo dígito de crescimento e a expectativa é a de que esse ritmo se sustente no longo prazo. “O mercado brasileiro é muito relevante, independentemente de percalços econômicos”, avalia o executivo. “E temos uma plano de crescimento em execução.”
Os similares são cópias não necessariamente perfeitas de um medicamento de referência e têm marca própria. E a aposta nesse tipo de medicamento e em diversificação, de acordo com Aguiar, ganhou força na Medley em 2013, com o lançamento de cerca de dois ou três novas marcas por ano de similares, que hoje representam quase um terço do faturamento da unidade de negócios. De lá pra cá, a unidade de negócios de genéricos e similares passou por uma grande reestruturação, para ser “definitivamente integrada” à Sanofi.
Segundo Aguiar, a atuação da Medley em similares está concentrada em quatro áreas: cardiologia, sistema nervoso central, ginecologia e gastroenterologia. Em sistema nervoso central, o grupo tem promovido medicamentos da própria Sanofi junto com os da Medley com o objetivo de mostrar à classe médica que possui um portfólio completo. “Somando os portfólios, ficamos entre os cinco maiores desse segmento”, explica.
Na Europa, por outro lado, a farmacêutica decidiu-se recentemente pela venda dos ativos de genéricos e as notícias de que estava avaliando a permanência ou não nesse segmento no mercado europeu gerou inclusive rumores relacionados às operações no Brasil. Aguiar é categórico ao afirmar que a Medley não está à venda. “A Medley é importante para a estratégia da Sanofi porque amplia o acesso à população e permite acelerar o negócio de similares”, afirma.
A decisão foi anunciada pelo laboratório junto aos resultados do terceiro trimestre, no fim de outubro, e está alinhada ao planejamento estratégico que tem como horizonte o ano de 2020. Conforme a farmacêutica, todas as opções foram analisadas “cuidadosamente”.
“A Sanofi estará à procura de um potencial comprador que aproveite as oportunidades de crescimento sustentável a médio e longo prazos”, informou, acrescentando que segue comprometida com a área de genéricos em outras regiões e “continuará a se concentrar nos mercados emergentes para desenvolver o negócio nesses países”.
fonte: Valor Econômico
